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O olhar psicopedagógico sobre o autismo

Com a Inclusão sendo parte da prática pedagógica e com uma crescente busca por escolas regulares, entendemos a necessidade de melhores condições teórica/prática no planejamento pedagógico acerca do autismo e para crianças no espectro autista. Isto é, as especificidades do transtorno precisam se tornar integralmente atendidas nas atividades propostas pelos professores, com um maior engajamento dos envolvidos no desenvolvimento da criança autista.

Cunha (2009) explica que o autista é um indivíduo único, é exclusivo enquanto pessoa, embora tenha características peculiares e suas manifestações comportamentais diferenciam-se segundo o nível de comprometimento e necessidades pessoais.

Por isso, a escola precisa levar em conta os contextos sociofamiliares, econômicos e culturais que interferem no aprendizado do autista, para oferecer uma proposta que possibilite o alcance de tais objetivos. Viabilizando a redução das lacunas, ampliando seu aprendizado nas áreas mais comprometidas, para obtenção de resultados mais funcionais.

Fernández (1991) coloca que o olhar Psicopedagógico deixa de lado tudo o que vem pronto, e valoriza a construção do conhecimento do aprendente, partindo das suas potencialidades.

Ou seja, o Psicopedagogo junto à instituição, no grupo e/ou no individual, buscará ampliar ideias e conceitos diferentes da
sintomatologia, sem deixar de olhar a dinâmica do ato de aprender e o processo nas suas particularidades e diferenciações inerentes de cada aluno.

Histórico do Espectro Autista

Segundo Orrú (2007), o autismo foi descrito pela primeira vez em 1943, pelo Dr. Leo Kanner, médico austríaco, residente em Baltimore, nos Estados Unidos da América, em seu histórico artigo escrito sobre distúrbios autísticos de contato afetivo. Em 1944, Hans Asperger, médico austríaco e formado na Universidade de Viena, descreve a psicopatologia autística da infância, retratando crianças semelhantes às de Kanner. Hoje, atribui-se a ambos pesquisadores a identificação do autismo.

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é um transtorno neurobiológico determinado em parte por aspectos genéticos (Lord & Bishop, 2010) e também por aspectos ambientais (Johnson & Myers, 2007; Silver & Rapin, 2012).
Pessoas com TEA apresentam déficits persistentes na comunicação e na interação social e, ainda, padrões repetitivos e restritivos de comportamento (American Psychiatric Association, 2013).

A autora mencionada define que o autismo é um transtorno com alterações presentes tipicamente antes dos três anos de idade, e que se caracteriza por desvios qualitativos na comunicação, na interação social e no uso da imaginação. Esses aspectos, por aparecerem juntos, foram chamados por Lorna Wing e Judith Gould, em estudos realizados em 1979, de tríade. Sendo responsável pelo padrão comportamental restrito e repetitivo, mas com condições de inteligência que podem variar do retardo mental a níveis acima da média.

Não é uma doença

Não é uma doença, é uma condição neurobiológica, de origem genética. Ou seja, significa que alterações no código genético do feto em desenvolvimento no útero da mãe fazem com que ocorra uma cadeia de reações químicas que modificam a qualidade, a produção, a forma, a organização e o número de células e alteram a expressão química desses neurônios. Isto é, a criança nasce com alterações na estrutura cerebral.

Cunha (2009) afirma ser usualmente aceito na comunidade científica que o autismo resulta de uma multiplicidade de fatores, podendo cada um deles manifestar-se de diferentes formas. Por isso, a criança cria formas próprias de relacionamento com o mundo exterior, não interage normalmente com as pessoas, inclusive com os pais, e manuseia objetos insolitamente, gerando problema na cognição, com reflexos na fala, na escrita e na sua interação social restrita. Os objetos passam a ter funções apenas sensoriais, com pouca contribuição cognitiva, sendo assim, o autista tem dificuldades para simbolizar, para nomear e apresenta prejuízos na linguagem.

Ainda, o autor identifica certos pontos cardeais do transtorno que, percebidos precocemente, ajudam pais e especialistas: o infante mostra-se retraído e isolado dos demais, sem manter contato visual, com resistência ao contato físico e ao aprendizado; não tem medo diante de perigos reais, age como se fosse surdo, faz “birras”, pouca flexibilidade para mudanças, usa pessoas para pegar objetos; demonstra hiperatividade física, agitação desordenada e ou calam excessiva, apego ou manuseio não apropriado de objetos, movimento circulares no corpo, apresenta sensibilidade a barulhos; observam-se estereotipias e compulsão, na linguagem ecolalias, e não demonstra interesse por brincadeiras de faz-de-conta.

O olhar psicopedagógico

Visca (1991) enfatiza que ao fazer uso de múltiplos modos de prevenir, diagnosticar e corrigir, a Psicopedagogia estuda a aprendizagem típica e atípica. A prevenção, do ponto de vista da epistemologia convergente possui dois níveis, primária e secundária. A primeira atua dando condições apropriadas ao aluno/cliente para que a aprendizagem ocorra sem interferências, sem prejuízos ao mesmo, controlando-se a patologia instalada; as secundárias agirão na reabilitação da pessoa com déficits evitando-se a evolução do quadro.

O diagnóstico Psicopedagógico é estudado a partir de três níveis de abordagem que são metacientífica, o científico e o técnico. A metacientífica corresponde ao plano da Filosofia e tem por finalidade analisar com senso crítico a própria ciência. No científico são construídos sistemas descritivos e explicativos do objeto e estado ou comportamento. No técnico estudam-se regras práticas vinculadas à ocupação empírica (Visca, 1991).

Na escola, o Psicopedagogo, junto à equipe docente, reelabora os planejamentos educacionais com olhar sempre voltado às questões metodológicas, relacionais e sociocultural, com foco nas trocas dos saberes entre ensinante e aprendente. Portanto, a sua atuação é de assessoramento incentivando a instituição a promover mudanças que abranjam questões afetivas, cognitivas, motoras, socioeconômicas e políticas. A partir do olhar e da escuta das causas das dificuldades de inclusão do aluno autista (GASPARIAN,1997).

O especialista irá instrumentalizar os docentes de tomadas de decisões que atendam as necessidades educativas quanto ao conhecimento do nível de aprendizagem escolar, do desenvolvimento real e proximal, de interesse e necessidades específicas entorno do social, do escolar, do familiar, do comunitário, dos hábitos básicos de higiene e de autonomia em relação à comunicação e escrita, a utilização de códigos de comunicação, visando-se possibilitar a melhor inclusão (PAROLIN,2006).

O investimento jamais será em vão

Na opinião de Cunha (2009), ainda que o aluno não aprenda perfeitamente o que se busca ensinar, ele estará trabalhando sempre a interação, a comunicação, a cognição e os movimentos. Haverá conquistas e erros, mas o investimento jamais será em vão. Todavia, o afeto é de primordial valor na dinâmica e na superação das dificuldades. A assimilação ocorre dentro dessa capacidade de construção de mundo de acordo com seus esquemas.

Percebe-se, desta forma, que os elementos necessários são extraídos do que se tem e sabe para a construção do que não sabe. Aquilo que é deformado ganha forma. Ou seja, o desenvolvimento fica totalmente atrelado ao estímulo que será traçado de maneira única, utilizando os instrumentos teóricos e práticos da Psicopedagogia na condução de todo o processo.

É importante utilizar aptidões, interesses, gostos, bem como planejar as tarefas a partir da potencialidade de cada criança no espectro. Portanto, as atividades devem possuir caráter terapêutico, afetivo, social e pedagógico. Terapêutico, possibilitando a superação dos comportamentos inadequados provenientes do comprometimento autístico. Afetivo, criando vínculo com o processo de aprendizagem. Social, com o objetivo de propiciar experiência em grupos. Pedagógico, estabelecendo atividades que observem a sua história pessoal, a individualidade para o desenvolvimento de habilidades como aprendiz na sala de aula (CUNHA, 2009).

Compete ao Psicopedagogo assessorar a equipe escolar, dando apoio e subsídios para a compreensão dos aspectos evolutivos e potencialidades do aluno autista. Por meio da observação, é possível selecionar os estímulos que tornam o aprendente mais receptivo às práticas pedagógicas.

 

Pesquisa bibliográfica da Psicopedagoga da Ludens,

Adriana Dias Pires.

 

REFERÊNCIAS
CUNHA, Eugênio. Autismo e Inclusão: Psicopedagogia e práticas educativas na escola e na família. Rio de Janeiro: Wak,2009.
FERNÁNDEZ, Alicia. Inteligência aprisionada: Abordagem Psicopedagógica clínica da criança e sua família. 2 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.
GASPARIAN, Maria Cecília Castro. Psicopedagogia institucional sistêmica. São Paulo: Lemos, 1997.
ORRÚ, Silvia Ester. Autismo, linguagem e educação: interação social no cotidiano escolar. Rio de Janeiro: Wak, 2007.
PAROLIN, Isabel Cristina Hierro. Aprendendo a incluir e incluindo para aprender. São Paulo: Pulso,2006.
RODRIGUES, Janine Marta Coelho; SPENCER, Eric. A criança autista: um estudo psicopedagógico. Rio de Janeiro: Wak,2010.
VISCA, Jorge. Psicopedagogia: novas contribuições. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1991.

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